artigos e ensaios - 2022 / Mariza Peirano

Argonautas faz cem anos

A primeira grande monografia de Bronislaw Malinowski completa 100 anos. Foi em 1922 que a editora Routledge publicou Argonautas do Pacífico Ocidental. Durante o último século, o livro foi ora aplaudido, ora criticado, mas marcou a antropologia com um antes e um depois – antes e depois de Argonautas. A obra tornou-se célebre por estabelecer padrões para a pesquisa de campo e resultar de um trabalho longo e intensivo. A partir daí, adquiriu aspectos míticos como rito de iniciação na disciplina. O reconhecimento de que a monografia alcançou enorme prestígio na antropologia pode ser visto nas inúmeras publicações por ocasião da proximidade do seu centenário, em várias partes do mundo, reunindo estudos, novas avaliações, debates e depoimentos.

O manuscrito de Argonautas ficou pronto um ano antes de sua publicação, em 1921, mas foi recusado duas vezes: primeiro, pela editora Macmillan, que considerou que o livro não teria apelo público; depois, pela Cambridge University Press, que demandou uma contrapartida financeira considerável.

O detalhe é que o manuscrito recusado por essas editoras tinha o nome The Kula, título enigmático na época, e era de um autor praticamente desconhecido. Depois dos fracassos, Malinowski resolveu apresentar um título mais expressivo à Routledge, fazendo uso do termo “argonautas”, com um subtítulo detalhado: “Um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia”. A partir dessa experiência, parece que Malinowski e os antropólogos em geral aprenderam que títulos importam, e vendem. (Continuamos a fazer alusões poéticas ao batizar nossos trabalhos, com o acréscimo de um subtítulo que esclarece seu conteúdo). Leia na íntegra...