artigos e ensaios - 1992 / Mariza Peirano

Mergulho no ponto zero da história do Brasil

Os livros sobre os Tupinambá marcam o início do esforço de Florestan Fernandes para implantar padrões de trabalho que permitissem à sociologia ter a marca "feita-no-Brasil". Embora não tenha obtido sucesso de seus trabalhos voltados para a problemática urbana, são considerados por especialistas - entre os quais Roger Bastide, que os apoiou - "a tentativa mais séria de explicação do ponto zero da história do Brasil".

A carreira intelectual e institucional de Florestan Fernandes, fundador e principal figura do movimento conhecido como a "escola paulista de sociologia" nos anos sessenta, apresenta um fato curioso: a produção resultante de um período relativamente longo de sua vida - seis a sete anos - é hoje vista como importante, mas negligenciada pelo público que consome a literatura de ciências sociais.

Na verdade, os estudos de Florestan Fernandes sobre os índios Tupinambá, baseados em roconstrução histórica de fontes quinhentistas e seiscentistas, e que ocuparam o autor de 1945 a 1952, "não pegaram". Os dois livros e os vários artigos escritos sobre o assunto (Fernandes, 1948, 1949a, 1949b, 1952, 1963, 1970) são desprestigiados por muitos cientistas sociais como "a fase funcionalista" do autor, freqüentemente ignorados por historiadores e, pelo próprio Florestan Fernandes, considerados como seu "período de formação". São vistos como clássicos da literatura das ciências sociais, mas o próprio autor declara haver descoberto que clássicos não vendem no Brasil. Leia na íntegra...