artigos e ensaios - 2014 / Mariza Peirano

A história que me orienta

Motivada pela perspectiva de participar do Seminário “Os Rumos da Antropologia no Brasil”, que comemorou os 35 anos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia na Universidade Federal de Pernambuco em 2012, descobri-me refletindo, mais uma vez, sobre como a disciplina, nascida da ideologia universalista e igualitarista, remete à diferença e, a partir dela, se molda. E, mais, como ela própria, ao mesmo tempo una e plural, renasce a cada momento, e em cada novo lugar, em novas configurações vinculadas, embora não determinadas, aos contextos em que são estabelecidas e às cosmologias que as informam. Toda esta questão se recoloca quando penso no tópico da mesa para a qual fui convidada, “Histórias da Antropologia e da Etnografia: Interpretando o Brasil no Mundo”.

Para focalizar este lugar no mundo, vou me guiar pela história da antropologia que me orienta, quando pesquiso, escrevo e procuro transmitir as promessas da nossa disciplina aos alunos. Desnecessário dizer que esta história está vinculada à perspectiva teórica em que me apoio, já que, na antropologia, história e teoria acontecem juntas. Algumas vinhetas indicarão o caminho.

I

Inicio com John Cage, o compositor, que ouviu de um músico holandês o comentário de que deveria ser muito difícil para os norte-americanos compor música, por estarem tão distantes dos centros da tradição. Cage respondeu que deveria ser muito difícil aos europeus compor, por estarem tão perto dos centros da tradição. Ao discutir as “histórias da antropologia e da etnografia” da perspectiva de quem se situa no Brasil é inevitável que o episódio relatado por Cage nos faça refletir sobre o que se convencionou chamar de centros e de periferias, e que foi um tema muito presente na mesa-redonda do Seminário dos 35 anos. Para nós, antropólogos brasileiros, que temos os Estados Unidos como um dos centros contemporâneos, este episódio não deixa de ser interessante. Leia na íntegra...