capítulos de livros - 2000 / Mariza Peirano

Max Weber e a antropologia.

Micro-etnografia e macro-sociologia: religião e política nas histórias teóricas das ciências sociais

"I Thus suggest, again regarding our general categories, that, each taken in its stronger sense, politics and economics on the one hand, religion and society on the other, stand opposed, the first two concepts representing the modern innovation and the second two 'the continuity with the traditional universe that remains in the modern universe'."

(Dumont, 1977: 22).

Uma proposta pouco ortodoxa

O exame da literatura sociológica clássica indica que a "política" parece ter representado, para os cientistas sociais em geral, desafio equivalente (como dimensão, esfera ou categoria social) ao que, em particular, a "religião" desempenhou para os antropólogos ao longo desse século. Para os primeiros (os sociólogos em geral), a política forneceria a chave para se desvendar a natureza sui generis do mundo moderno; para os segundos (os antropólogos), a ambição de uma teoria social de caráter universal, que servisse tanto a sociedades simples quanto complexas, seria alcançada pela compreensão do fenômeno religioso.

Poder-se-ia objetar que a obra de Max Weber representa um contra-argumento a esta proposta, na medida em que as grandes religiões mundiais foram por ele privilegiadas como objeto de estudo. Mas, desde a leitura de Bendix à obra de Weber, ficou claro que para este o foco nas religiões era o caminho para se alcançar a política ocidental moderna. Por contraste, na agenda dos antropólogos, a religião e as sociedades tribais (o primeiro termo no singular; o segundo, no plural) ocuparam espaço privilegiado como decorrência da simplicidade de seus modelos etnográficos, cujo conhecimento poderia ajudar a esclarecer o mundo moderno como um todo. Neste projeto aparentemente singelo, mas extremamente ambicioso, por décadas a antropologia focalizou a alteridade exótica como laboratório empírico para o desenvolvimento de abordagens analíticas. Só nos anos 60, com a revolução lévi-straussiana, as restrições ao universo empírico tornaram-se obsoletas, ficando explícito que à disciplina sempre interessaram mais as diferenças - que levariam ao universal - do que generalizações, ou mesmo uma tipologia de sociedades. Reafirmava-se naquele momento o postulado durkheimiano de que nenhuma instituição humana pode repousar sobre o erro e a falsidade.Leia na íntegra...