entrevistas - 1978 / Mariza Peirano

Roberto Cardoso de Oliveira

"O Florestan queria me contratar para o Departamento de Ciências Sociais, mas o colégio universitário não aceitou. Mas ele disse que o que havia por trás não era, realmente, o aspecto formal da coisa. Mas então, eu estava na eminência de terminar a universidade e ficar desempregado. E naquela época o mercado era mínimo. Você sabe que todo paulista, por exemplo, se imaginava terminar a universidade ou ir para Paris fazer uma pós-graduação, e, portanto, dando continuidade à experiência com os professores franceses que nós tivemos – quer dizer, eu tive cinco professores da Sorbonne. Era hábito a gente ter, todo ano, você tinha um ou dois professores franceses; nossos cursos eram dados em francês e tudo isso, e persistiu até 55, eu acho. Então, ou nós íamos para a Europa ou nós éramos contratados na universidade. Então nesse período é que houve a minha passagem para a antropologia. Foi por um fator puramente casual. Quer dizer, eu conheci Darcy Ribeiro no fim de 53. Eu estava me formando ainda. Faltava uns meses para eu me formar, Darcy Ribeiro foi fazer uma conferência na Biblioteca Municipal e eu fui assistir. Um amigo comum, o Og Leme, um economista, nos apresentou, e o Darcy foi com minha cara e me perguntou se eu não queria trabalhar com ele. Eu falei: "Olha, vamos ver". Então, "Eu lhe mando uma carta, eu entro em contato com você até dezembro, mais ou menos". Isso eu acho que devia ser em outubro, setembro ou outubro. E realmente, no fim do ano, eu recebi um aviso do Darcy, dizendo que tinha um lugar para mim. Se eu não queria ir trabalhar com ele no Museu do Índio. Eu disse a ele que não entendia nada de etnologia. Eu tinha assistido a algumas conferências da Gioconda Mussolini, que era uma excelente professora, mas eu não tinha conhecimento nenhum em etnologia. Ele disse que não, que eu não me preocupasse, que o importante era eu ter uma base em sociologia, que ele achava que eu tinha, essa coisa toda, e que eu tomasse aquela permanência lá, mesmo porque ele ia me pagar muito pouco, como se fosse uma bolsa de estudos para estudar etnologia. Falei, bom, nesse caso, eu aceito. E fiz um plano de ficar um ano lá, porque, realmente, eu estava recebendo muito pouco, já estava casado e já tinha um filho. Então eu, Gilda, o Luís Roberto, pequenininho, fomos para lá. Saímos de São Paulo para o Rio. Comecei, exatamente em janeiro. Terminei a universidade em dezembro, em janeiro de 54, estava trabalhando com Darcy. Pois bem. Então nesse início, puramente acidental, e que eu, para mim, eu achei que, de qualquer maneira, etnologia e sociologia, não havia uma diferença maior, exatamente porque a minha formação era muito francesa, em que os autores com quem eu tinha trabalhado, sobretudo Durkheim, Marcel Mauss, tudo isso, eram também autores que tinham assento, digamos, no que nós chamaríamos hoje de antropologia social." Leia na íntegra...